Porque se aproxima o Natal e porque quero deixar aos meus novos amigos uma mensagem de Natal... fui buscar esta, que escrevi no ano passado para duas ou três pessoas muito especiais. Um ano se passou, tanta coisa aconteceu... e agora conheço muito mais gente especial!
Lembro aquele Natal numa qualquer pensão em Angola. Teria 5 anos. O meu pai tinha perdido tudo num qualquer negócio mal feito (quantas vezes aconteceu, meu Deus?). Vivíamos 4 num quarto, mas mesmo assim houve um pinheiro (seria?) enfeitado com laços de fita de embrulho. E houve prendas (sei que recebi uma magnífica bisnaga de leite condensado proveniente dalguma "ração de combate" de um militar...).
Lembro outros Natais, passados na Lousã, entre os seis e os dez anos, com imensa gente, imensas prendas, em casa dos meus avós. O presépio levava dias a construir e o meu avô (electricista) fazia fontes, rios a correr, estrelas a acender... Os meus pais mandavam-me bonecas (será que mandavam?) com que eu não podia brincar para não estragar. Mas eles não estavam lá e, durante 4 anos fiquei à espera deles em vão - nunca havia dinheiro para virem de Angola.
Recordo com saudade aqueles Natais da minha adolescência. O meu pai (nos anos em que não estava falido) convidava militares para cearem connosco. Havia sempre cantoria (o meu irmão já tocava guitarra) e festa até de madrugada. As prendas eram mais do que muitas. O gira-discos portátil, a mini-mota, o fato de bombazine Wrangler, as calças Lafinesse, o estojo de maquilhagem que veio da África do Sul!!!!
Depois houve aqueles outros Natais que não quero lembrar - quando vim para Portugal, com 16 anos, casada com um troglodita com uma família que como prenda de Natal não me insultavam nem batiam no dia 25!
Depois foram os meus Natais, em minha casa, com toda a gente, filhas, pais, irmãos, sogros, cunhados. Dias infernais de trabalho, mas sempre vivos de amor. Todos os anos a única discussão era a escolha do Pai Natal! Todos queriam ser e cabía-me sempre a mim a árdua imparcialidade da escolha.
Agora estes Natais - estranhos! Filhas num dia, pais no outro, enteados às vezes, irmãos conforme a vontade das cunhadas... Mas são Natais.
Acredito no Menino Jesus e, embora o meu presépio seja de pau-preto e as figuras tenham feições marcadamente afro, olho para Ele com carinho e agradeço-Lhe esta oportunidade de estar com aqueles que amo.
"Olha o Natal outra vez. E não saber ignorá-lo... não poder rasgar-lhe a página... não conseguir despedi-lo... mai'las suas asas grotescas de monstro decadente!
Que venha, pois. Que entre, tire o ridículo barrete, sacuda a poeirada dos ombros e das botas, abra o remendado saco. E cumpra a sua única e definitiva missão: levar este meu aconchegado abraço a quem muito bem quero. "
Ainda bem que é Natal outra vez. Ainda bem que me doem as costas de tantas horas em pé a fritar rabanadas e a escolher grelos. E se a sua única e definitiva missão é levar os nossos abraços a outrem e trazer outros para nós próprios, então que mais Natais venham, que cada Natal da minha vida é uma página da minha história que (espero) ainda vai a meio!
Lembro aquele Natal numa qualquer pensão em Angola. Teria 5 anos. O meu pai tinha perdido tudo num qualquer negócio mal feito (quantas vezes aconteceu, meu Deus?). Vivíamos 4 num quarto, mas mesmo assim houve um pinheiro (seria?) enfeitado com laços de fita de embrulho. E houve prendas (sei que recebi uma magnífica bisnaga de leite condensado proveniente dalguma "ração de combate" de um militar...).
Lembro outros Natais, passados na Lousã, entre os seis e os dez anos, com imensa gente, imensas prendas, em casa dos meus avós. O presépio levava dias a construir e o meu avô (electricista) fazia fontes, rios a correr, estrelas a acender... Os meus pais mandavam-me bonecas (será que mandavam?) com que eu não podia brincar para não estragar. Mas eles não estavam lá e, durante 4 anos fiquei à espera deles em vão - nunca havia dinheiro para virem de Angola.
Recordo com saudade aqueles Natais da minha adolescência. O meu pai (nos anos em que não estava falido) convidava militares para cearem connosco. Havia sempre cantoria (o meu irmão já tocava guitarra) e festa até de madrugada. As prendas eram mais do que muitas. O gira-discos portátil, a mini-mota, o fato de bombazine Wrangler, as calças Lafinesse, o estojo de maquilhagem que veio da África do Sul!!!!
Depois houve aqueles outros Natais que não quero lembrar - quando vim para Portugal, com 16 anos, casada com um troglodita com uma família que como prenda de Natal não me insultavam nem batiam no dia 25!
Depois foram os meus Natais, em minha casa, com toda a gente, filhas, pais, irmãos, sogros, cunhados. Dias infernais de trabalho, mas sempre vivos de amor. Todos os anos a única discussão era a escolha do Pai Natal! Todos queriam ser e cabía-me sempre a mim a árdua imparcialidade da escolha.
Agora estes Natais - estranhos! Filhas num dia, pais no outro, enteados às vezes, irmãos conforme a vontade das cunhadas... Mas são Natais.
Acredito no Menino Jesus e, embora o meu presépio seja de pau-preto e as figuras tenham feições marcadamente afro, olho para Ele com carinho e agradeço-Lhe esta oportunidade de estar com aqueles que amo.
"Olha o Natal outra vez. E não saber ignorá-lo... não poder rasgar-lhe a página... não conseguir despedi-lo... mai'las suas asas grotescas de monstro decadente!
Que venha, pois. Que entre, tire o ridículo barrete, sacuda a poeirada dos ombros e das botas, abra o remendado saco. E cumpra a sua única e definitiva missão: levar este meu aconchegado abraço a quem muito bem quero. "
Ainda bem que é Natal outra vez. Ainda bem que me doem as costas de tantas horas em pé a fritar rabanadas e a escolher grelos. E se a sua única e definitiva missão é levar os nossos abraços a outrem e trazer outros para nós próprios, então que mais Natais venham, que cada Natal da minha vida é uma página da minha história que (espero) ainda vai a meio!