Tive a sorte de ter uns pais excepcionais. A minha mãe escreve, pinta, canta, o meu pai é um comunicador nato, também bom pintor. Na infância, quando alguém se referia a mim era: "a filha da Milú e do Reinaldo". Por vezes era "a irmã do Naldito", aquele meu irmão fabuloso que canta, compõe, escreve...
Quando casei (da primeira vez com um jogador de futebol), passei a ser "a mulher do N." e da segunda "a mulher do J.". Até fui "a nora do F." por ter um sogro conhecido no burgo.
Mais tarde, com as filhas, fiquei-me como "a mãe da Ana", "a mãe da Mariana" (meninas de rara popularidade e simpatia)...
E assim tem continuado...
Faltam 4 meses para fazer 50 anos e ando à procura da minha identidade!
Nasceu, neste blog, uma brincadeira que me tem divertido muito, mas que e tem obrigado a pensar: eu não sei onde estou colocada nesta vida!
Tenho amigas que me juntam ao "clube das tias" quando ainda me sinto "sobrinha"...
Sinto a sabedoria deste quase meio século a juntar-me a gente (da minha idade) para trocar experiências, mas ao mesmo tempo sinto a irreverência de uma adolescente sempre com vontade de dizer baboseiras, por mais sério que seja o momento...
Gostava de publicar só coisas sérias e profundas (pois é assim que sinto quase sempre), mas sou estranhamente impelida (não sei porque forças) a brincar com tudo e com todos...
Gostava de ter um catálogo de bons conselhos para dar a quem precisa - especialmente às minhas filhas - mas sinto-me tão próxima delas que lhes percebo as loucuras, sinto-lhes os dramas, comungo as mesmas dores e a mesma vontade de fazer loucuras...
Por isso pergunto (e espero ter algumas respostas):
- Quando (qual a altura precisa) se deixa de ser "sobrinha" e se passa a "tia"?
- Quando se deixa de ser "filha" ou "irmã" ou "mulher" ou "mãe" de alguém, e se passa a ser simplesmente "alguém"?
- Será isto uma crise de identidade ou de idade?
- Isto faz chorar ou rir?