segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lágrima de preta

Encontrei uma preta

que estava a chorar

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar.

Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito transparente.

Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.

Ensaiei a frio,

experimentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,

nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)

e cloreto de sódio.



António Gedeão

6 comentários:

To e Li disse...

Lágrima de preta!

http://www.youtube.com/watch?v=XdTlyyxgvmQ

Beijinhos

Linda

Anónimo disse...

António Gedeão, de seu nome verdadeiro Rómulo de Carvalho, foi um escritor enorme.

O texto que a Albertina aqui nos traz tem IVA (interesse de valor acrescentado) se ouvirmos a canção que salvo erro é interpretada pelo Manuel Freire.

Mrs. Sea disse...

Que lindo poema... não conhecia!
Obrigada por me mostrares!
Bjins

Graça Lopes disse...

Adoro este poema e desde a minha juventude que aprendi a cantá-lo. (por isso decorei a letra)
Através da interpretação de Manuel Freire, este poema chegou mais longe! Era bom que mais interpretes portugueses usassem os poemas lindos que felizmente temos!
Beijinhos

paula disse...

Quanta sabedoria!!!
Obrigada por partilhares...
beijinhos de luz
Paula padinha

Branca disse...

Sempre gostei imenso deste poema e da interpretação de Manuel Freire!
Tal como a Graça quase o decorei, são ícones da nossa juventude e de uma ligação forte a África, porque estes senhores passavam por lá, e traziam-nos na sua sensibilidade poética a vida e o coração dos nossos irmãos africanos.
Gostei de recordar.
Beijinhos.
Branca